GT: TRABALHADORES, SINDICALISMO E POLTICAO processo de reestruturao produtiva e o jovem trabalhador Heloisa Helena T.de Souza MartinsDepartamento de SociologiaFFLCH-USPXXI ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS27 A 31 DE OUTUBRO DE 1998CAXAMBU - MINAS GERAISO processo de reestruturao produtiva e o jovem trabalhadorAinda que as anlises sobre a introduo de inovaes tecnolgicas e organizacionais no constituam propriamente uma novidade no campo especfico das Cincias Sociais, nos anos 80 que as questes referentes reestruturao produtiva ganham maior relevncia. Evidentemente, o objetivo dos profissionais de diferentes reas era o de contribuir, com os seus estudos, para o esclarecimento das profundas mudanas que afetavam as empresas e os trabalhadores.Considerando, no caso da indstria brasileira, o processo de introduo tanto de tecnologia fsica, ou seja, de mquinas, equipamentos e sistemas, quanto de tecnologia organizacional que compreende a gesto e organizao do processo de produo, envolvendo materiais, mquinas e, sobretudo homens e informaco (Leite E., 1995), podemos distinguir trs perodos: o primeiro, iniciado no final dos anos 70 e que se estendeu at meados da dcada de 80, marcado pela difuso dos circulos de qualidade; o segundo, que se estendeu de meados da dcada de 80 at o incio da dcada de 90 e que se caracterizou pela rpida difuso de equipamentos e a adoo de vrias tcnicas japonesas de organizao do trabalho como o just-in-time, CEP, kanban, trabalho em clulas; e o perodo iniciado no comeo dos anos 90, onde efetivamente as empresas passaram a investir mais intensamente nas tcnicas japonesas de gesto e organizao , com nfase na flexibilizao do trabalho e no maior envolvimento do trabalhador com a qualidade e a produtividade (Leite M., 1995).Esse processo de modernizao industrial, realizado sob o estmulo e as presses de diferentes polticas econmicas, elaboradas no quadro da concorrncia internacional, no tem atingido da mesma forma e com a mesma intensidade os diferentes ramos da indstria e as empresas. O que tem ocorrido no Brasil, a existncia de diversas trajetrias de adaptao, segundo J. Humphrey (Leite, 1996), atravs das quais as empresas procuram ajustar-se s novas exigncias da economia globalizada. preciso considerar, tambm, que as inovaes tecnolgicas so apropriadas pelas empresas atendendo, muitas vezes, a modismos ou necessidade de seguir os passos de empresas dos setores de ponta ou lderes no mercado. De qualquer forma, a apropriao dos novos modelos feita a partir de uma recontextualizao, considerando as condies e as possibilidades tcnicas e financeiras existentes em nosso pas (Grun, Donadone e Yokoyama, 1994).Para melhor esclarecer a amplitude dessas mudanas, tomo como referncia o caso das indstrias do ramo metalrgico na regio abrangida pelo Sindicato dos Metalrgicos de Osasco . Segundo um dos diretores da entidade, est ocorrendo a introduo de novas tecnologias especialmente nas empresas "que tem acesso internacional para os seus negcios. Ento ela faz uma produo visando o mercado interno. Essas empresas esto se modernizando. Aquelas empresas que esto no mercado repositor ou no mercado interno, e boa parte delas ainda esto, no tem acesso a novas tecnologias. Na verdade, no tm recursos. Ns temos um exemplo muito claro, hoje, no caso das prensas. No setor metalrgico, a prensa um smbolo importante, As prensas que esto nas empresas hoje, em mdia elas tem maisde 40 anos de uso, mas a empresa tem apenas cinco ou dez anos. Porque a prensa nasceu na grande empresa, veio do exterior para c, veio para a grande, no serviu para a grande, foi para a mdia, no serviu para a mdia, foi para a pequena e muitas vezes vai para o sucateiro e volta para o mercado l na R. Piratininga ou R. Florncio de Abreu. Ento ns temos prensa com 40 ou 50 anos de idade nas fbricas e a empresa no consegue comprar mais nenhum equipamento novo. Este um lado muito srio, eu acredito que da maioria das empresas que esto hoje instaladas em Osasco. No tem capital para adquirir novos equipamentos e ter uma empresa competiitiva e sem risco para os trabalhadores. Infelizmente, uma realidade cruel em que a gente vive. Algumas tem acesso a recursos, tem matrizes l fora, mas so muito poucas".Esse depoimento alerta-nos para o fato de que o processo de reestruturao produtiva, pelo menos no que se refere automao, tem avanado em um ritmo muito lento, seja em decorrncia da pouca disponibilidade de capital ou da disposio dos empresrios para novos investimentos (Bresciani, 1994:51). Todo o esforo das empresas parece resumir-se, portanto, na adoo de novas tcnicas de gesto e organizao da produo, copiadas, preferencialmente, do chamado modelo japons. S que, aqui, confirmando a dinmica da reestruturao produtiva nos pases perifricos, centrada em baixos salrios, baixo nvel de desenvolvimento tecnolgico e baixa qualidade dos produtos (Leite, M., 1996:87).O discurso da reestruturao produtiva, entretanto, tem enfatizado a necessidade de um novo tipo de trabalhador, mais qualificado, com nvel maior de escolaridade, assumindo mais responsabilidade, mais participante e comprometido com os objetivos da empresa. Como aponta Zibas (1997:123), os empresrios exigem um trabalhador que tenha iniciativa "seja criativo e responsvel, saiba resolver problemas, trabalhar em equipe, lidar bem com constantes inovaes tecnolgicas e que seja portador de uma alta capacidade de abstrao que o predisponha a constante aprendizagem". Ora, o perfil assim delineado atende mais aos princpios educacionais humanistas, que aos requisitos de uma formao estritamente tcnica e especializada da mo-de-obra.A questo que proponho discutir, ento, relaciona-se, de um lado, com essas exigncias que definem um novo tipo de trabalhador e, por outro lado, com a maneira pela qual esse trabalhador percebe as mudanas que esto ocorrendo no processo de produo. Que tipo de trabalhador est sendo recrutado pelas empresas? Qual o seu conhecimento a respeito das inovaes que afetam o seu trabalho? Qual a extenso e como os operrios percebem a sua participao no processo de trabalho?Tomarei com referncia para essa discusso os dados preliminares da pesquisa que venho realizando entre os jovens trabalhadores, de 18 a 25anos, empregados na produo das indstrias metalrgicas de Osasco . Alguns dados iniciais mostram quem esse jovem: 82.5%, so do sexo masculino e apenas 17,5% so mulheres, a maioria delas trabalhando no setor eletroeletrnico; 35,1% tm de 18 a 21 anos e 64,9% de 22 a 25 anos; 61,0% so solteiros e 38,1% casados e amasiados; desses, 28,4% tm de um a trs filhos; mais de 50,0% deles nasceu na Grande So Paulo, enquanto 38,5% nasceram em outros estados do pas. De uma maneira geral, posso afirmar que esses jovens, pelo menos no que se refere ao trabalho, unio de casal e paternidade/maternidade, mostram a tendncia de realizao, e no de adiamento, de trs das cinco passagens essenciais da transio para a idade adulta. Tenho observado que os estudos a respeito do jovem, especialmente os derivados de sries estatsticas, tendem homogeneizao, mostrando-se incapazes de perceber a diversidade que caracteriza as juventudes ou as diferentes maneiras de ser jovem. A nfase posta na busca dos comportamentos ou caractersticas que se repetem ou daquilo que comum aos jovens, independentemente de sua condio social e do lugar em que vivem. Afinal, alegam alguns especialistas no tema da juventude, so todos to iguais aos "nossos" filhos! Se aceito essa linha de interpretao e no consigo encontrar nos jovens operrios de Osasco traos que os aproximam dos jovens de classe mdia, ou se no consigo encontrar a uniformidade, o que isto significa? Que eles no so jovens, especialmente considerando que cerca de 40% deles j constituiu famlia?Seguirei em minha anlise a orientao de Bajoit e Franssen (1997), procurando apanhar no aquilo que homogeneiza esses jovens, mas aquilo que, mesmo com a identificao dada pela condio de operrio, apresenta diferenas determinadas pelas diferentes experincias de trabalho e de vida. Reafirmo, portanto, que a minha anlise refere-se a jovens operrios, com idade entre 18 e 25 anos, trabalhando em Osasco, em empresas metalrgicas que apresentam caractersticas especficas quanto ao tamanho, processo de trabalho, organizao e relaes de trabalho. Alm do mais, tratam-se de jovens que estavam, no momento da entrevista, inseridos no mercado formal de trabalho, com emprego estvel (ainda que vrios em perodo de experincia) e, portanto, todas as suas interpretaes a respeito do trabalho situam-se nessas condies.O jovem e o trabalhoAlgumas interpretaes a respeito da juventude, at incorporadas ao senso comum, caracterizam os jovens dos anos 60 pela sua rebeldia, os da dcada de 70 segundo o esteretipo da recusa do trabalho, enquanto os jovens dos anos 80 so definidos pelo seu individualismo e conformismo. Algumas pesquisas recentes tm procurado traar o perfil do jovem dos anos 90 e, no que se refere juventude da Europa, duas tendncias parecem evidentes: o prolongamento da idade juvenil e um novo significado de ser jovem, bem como o crescimento das expectativas com relao ao trabalho, principalmente em decorrncia do aumento do nvel de instruo, que os leva recusa de trabalhos com pouco prestgio social (Chiesi e Martinelli, 1997). Chiesi e Martinelli, que realizaram pesquisas entre os jovens italianos, e Bajoit e Franssen (1997), com seus estudos sobre os jovens belgas, apontam que a recusa ao trabalho aparece apenas entre uma minoria de jovens. Assim, no se pode falar propriamente em uma "crise de mecanismos de socializao para o trabalho" (Chiesi e Martinelli, 1997), mas sim na existncia de uma atitude mais racional diante do trabalho. Este continua sendo central na vida dos indivduos, mas h a introduo de elementos de liberdade e autonomia, no sentido de buscar a realizao das prprias capacidades, reduzir as quantidades e o tempo dedicado ao trabalho, especialmente quando pouco gratificantes e, principalmente, sem o sacrifcio da vida afetiva.Assim, comparando a pesquisa feita em 1992, com os dados das realizadas em 1983 e 1987, Chiesi e Martinelli verificaram que o trabalho perdeu a segunda posio em uma escala de valores, passando para o terceiro lugar. Em primeiro ficou a famlia, seguida das amizades/amor. Mas o trabalho "conta mais que o tempo livre,que o estudo e a cultura, que o compromisso social, religioso e poltico" (p.122). A concluso dos autores de que, na verdade, os dados no indicam o declnio da importncia do trabalho, mas sim uma transformao de sua concepo.Na mesma direo, Bajoit e Franssen verificaram uma mudana na relao dos jovens com o trabalho: "Enquanto no modelo tradicional a realizao pessoal estava subordinada ao trabalho, hoje o trabalho que tende a estar subordinado realizao pessoal, permanecendo entretanto como um elemento e um locus essencial, embora no exclusivo. Nesse sentido, no se trata tanto de umarejeio do trabalho, mas sim de uma reivindicao de um trabalho que tenha sentido para o prprio indivduo e/ou que lhe deixe tempo para uma vida prpria" (p.83).Para explicar a mudana na concepo do trabalho preciso considerar a situao do mercado de trabalho nos anos 90. Contrastando com um quadro, no passado, em que o jovem, uma vez alcanado o posto de trabalho, o via como permanente e nele buscava realizar-se e melhorar sua posio, a conjuntura atual de insegurana e de grande mobilidade ocupacional. Diante da quase inexistncia de trabalho em tempo integral, os jovens tendem a inserir-se no mercado com contratos de trabalho atpicos ou mais flexveis, em tempo parcial, por tempo determinado, temporrios e como subcontratao. De acordo com Chiesi e Martinelli, diante dessas condies, os jovens ainda conseguem desenvolver atitudes positivas diante do trabalho, chegando at a encarar favoravelmente a flexibilidade da relao de trabalho, ai encontrando possiblidades de aquisio de capacidades profissionais e de experincia.Mas, os jovens trabalhadores de Osasco no conseguiram exorcizar, ainda, a preocupao pelo posto de trabalho (Chiesi e Martinelli, 1997:112) e, para eles, o mais importante estar empregado. Quando indagados se gostariam de deixar de trabalhar, mostraram-se espantados diante dessa inconcebvel possibilidade e 90,5% deles afirmaram que no. Vrios disseram que gostam de trabalhar, que o trabalho uma necessidade fsica, pois no conseguem ficar parados. Muitos outros destacaram que o trabalho tudo na vida, seja porque garante o salrio e a sobrevivncia, mas principalmente porque todo homem digno trabalha. Ou como acentua um deles, "o trabalho um estimulante, voc est distraindo, estou me dando a oportunidade de conhecer mais. 'Conhea o infinito, alm do infinito'. O conhecimento te abre caminhos". Mesmo aqueles jovens (9,5%) que ousaram reconhecer que gostariam de deixar de trabalhar, cautelosamente lembram a impossibilidade disso, pelo menos no presente. Na verdade, gostariam de trabalhar autonomamente, "uma pizzaria, talvez", sem estar submetido ao "patro".Na realidade, a experincia de vida desses jovens marcada pelo trabalho, pois 11,5% deles comearam a trabalhar antes dos nove anos, enquanto 52% ingressaram no mercado de trabalho entre os dez e os quatorze anos, conforme a tabela abaixo.Idade em que comeou a trabalharMulheres%Homens%Total%at 9 anos-13,911,5de 10 a 12 11,822,820,8de 13 a 14 17,634,231,2de 15 a 18 47,127,831,2de 19 a 2523,5 1,3 5,3Total100,0100,0100,0Os dados revelam, tambm, que os homens entram mais precocemente no mercado de trabalho do que as mulheres, confirmando, assim, uma tendncia internacional. Algumas das jovens entrevistadas estavam vivendo a sua primeira experinciade trabalho e, segundo um dos diretores do sindicato, existem subsetores que preferencialmente as contratam, mas oferecendo condies desiguais com relao aos homens:"O nosso percentual de mo-de-obra feminina na categoria est crescendo. Devemos estar hoje prximo a 20% dos trabalhadores. Em algumas empresas ns vamos ter mulher na faixa de 14, 15 anos de idade"..."A jovem trabalhadora est concentrada na indstria eletroeletrnica, local de trabalho onde exigem esforos repetitivos, seriados, onde as pessoas funcionam muito mais como mquinas e com pouca possibilidade de pensar e de decidir o que esto fazendo e de novo esto ali ganhando dos menores salrios da categoria, sem ter acesso profissionalizao".Quando indagados a respeito dos motivos que os levaram ao trabalho, 44,6% apontam a necessidade de ajudar no sustento da famlia, contribuindo para aumentar a renda familiar. Como se trata de resposta com mltipla escolha, temos ainda que 21,8% alegaram procurar o trabalho por vontade prpria e 25,7% queriam tambm ter o seu prprio dinheiro, para comprar objetos de consumo que seus pais no podiam fornecer. De qualquer modo, esses jovens, provenientes de famlias com baixa renda, parecem ter muita clareza das limitaes decorrentes de uma vida cujo ritmo determinado pelo tempo do trabalho, que sempre vem primeiro, colocando tudo o mais em plano secundrio. So jovens ainda bastante ligados s normas tradicionais do trabalho e para os quais"o trabalho ao mesmo tempo uma necessidade vital, uma obrigao social e um dever moral, cuja contrapartida o status social que ele confere e a satisfao pessoal que proporciona . O trabalho tem uma dimenso instrumental (ganhar a vida) mas, apesar de seu carter penoso, ele comporta tambm uma forte dimenso expressiva (realizar-se social e pessoalmente)" (Bajoit e Franssen, 1997:79).Por outro lado, quase a metade desses jovens (48,5%) tem menos de um ano de trabalho na empresa e apenas 27,8% tm trs ou mais anos de casa. Comprova-se, assim, a instabilidade desses trabalhadores que, na perspectiva da segmentao do mercado de trabalho, ocupam um lugar perifrico. Alis, pela prpria caracterizao das indstrias metalrgicas da regio, mostrada anteriormente, podemos considerar que a categoria metalrgica, de maneira geral, consiste de trabalhadores perifricos, ou seja, trabalham em fbricas menores, ou fornecedoras, com nvel tecnolgico menos avanado, so pouco qualificados e instveis, nos quais as empresas pouco investem. Mas o core da fora de trabalho dessas indstrias, composto por trabalhadores adultos, mais qualificados, estveis e mais bem pagos, parece-me ser garantido pelo trabalho exercido pelos jovens (Leite, M., 1996).Essas colocaes ganham mais sustentao quando vemos que 28,9% desses jovens trabalham como auxiliares de produo e 37,0% so operadores de mquinas e 18,6% montadores (a maioria mulheres). Apenas 10,3% so operrios qualificados. Novamente recorro a depoimento de um dos diretores do sindicato:"O que a gente percebe que esses jovens esto mais no setor de ajudante geral, no so jovens muito qualificados, pelo menos o que eu observo nesta regio, pelo menos nessas empresas que empregam esse maior nmero de jovens, so jovens para trabalhar a na linha de produo, enrolando motorzinho, geralmente em linha de montagem. Dificilmente a gente v um jovem j qualificado, em uma situao melhor dentro da empresa".Para entender o apego desses jovens ao trabalho preciso considerar mais detalhadamente a ameaa constante do desemprego. De acordo com o Ministrio do Trabalho, entre 1990 e 1995, o Brasil perdeu 2,1 milhes de empregos formais, sendo que 1,4 milhes (67%) referiam-se a trabalhadores com menos de 24 anos (Pochmann, 1998). A pesquisa sobre o emprego e desemprego realizada pelo Seade/Dieese tem revelado o aumento contante da taxa de desemprego entre os adolescentes e jovens. Em dezembro de 1985, a taxa para os que tinham entre 10 e 14 anos era de 35,3%, passando em dezembro de 1997 para 46,4%. Na faixa etria de 15 a 17 anos, aumentou de 24,9%, em dezembro de 85 para 42,3% em dezembro de 1997. Para os jovens com idade entre 18 e 24 anos, as taxas so de 13,3% e 22,4%, respectivamente (Dieese, 1998b).Pochmann aponta, ainda, que as oportunidades de trabalho para os jovens tendem a se concentrar nas pequenas e microempresas que, no entanto, so conhecidas pelas condies precrias de trabalho que oferecem, alm dos baixos salrios e a instabilidade contratual, responsvel pela alta taxa de demisso: 72% para os jovens, enquanto para pessoas com mais de quarenta anos de 34%. Durante a primeira metade dos anos 90, contudo, foram as empresas com at 20 empregados que apresentaram um saldo positivo de 144,6 mil novos empregos em todo o pas, enquanto as empresas com mais de 250 empregados reduziram um milho de postos de trabalho para pessoas com menos de 24 anos.O desemprego juvenil, sempre mais alto do que a mdia do desemprego em geral, um fenmeno presente em muitos pases, fazendo com que ocorra a banalizao dessa situao, tornada comum entre os jovens. Mas, no deixa de constituir uma experincia negativa e traumatizante para a maioria dos jovens. Os relatos obtidos de jovens desempregados, por Bajoit e Franssen, revelam o sentimento de culpa e de vergonha, de desvalorizao social, responsvel, muitas vezes pela perda da identidade social e at mesmo da identidade pessoal.Apesar do quadro desfavorvel e de revelarem uma constante preocupao com a perda do emprego, os jovens metalrgicos de Osasco, entretanto, consideram que na idade deles quando comparados com os mais velhos, mais fcil encontrar trabalho (61,1%), sendo que 21,1% acham que mais difcil e 14,4% que igual. Provavelmente porque 60,5% deles conseguiram o atual emprego atravs da indicao de parentes, amigos ou vizinhos e 21,9% procuraram a empresa aps informao de colegas e conhecidos. Comprovam, assim, a importncia das estratgias individuais e familiares na busca do emprego, sustentadas "pela retcula das solidariedades primrias e as ligaes fortes do vnculo de amizade e de parentesco" (Chiesi e Martinelli, 1997:117). De forma bastante coerente, portanto, 63,5% desses jovens afirmam que foi fcil conseguir o emprego, enquanto 22,4% que foi difcil. E, nesses casos, o processo de admisso ao emprego, com os testes escritos e prticos, a entrevista e, principalmente os exames mdicos, podem atrapalhar a recomendao inicial.Escolaridade e qualificao profissional do jovem"Hoje em dia pagam muito pouco e exigem muito mais. Antigamente era at a oitava srie, hoje pedem faculdade, computao. Quanto mais curso voc tiver melhor"."As empresas do mais preferncia para o jovem, mas com estudo. Quando entrei aqui s tinha a quinta srie, fiz a escolinha da empresa e conclu o primeiro grau. Minha vontade continuar estudando, mas agora mais difcil, por sorteio, escolhem um ou dois de cada seo".Estes dois depoimentos demonstram com clareza como os jovens se apropriam do discurso formulado por empresas e autoridades educacionais, divulgado amplamente pelos meios de comunicao de massa, de que hoje, para se ter um emprego preciso ter escolaridade maior. Por experincia prpria, ou atravs de amigos e parentes, conhecem as exigncias que so feitas e que definem um novo modo de ser trabalhador. O gerente de uma das empresas pesquisadas disse-me que, diante da necessidade de produzir cada vez mais e com mais qualidade, no contratava para ajudante de produo quem no tivesse pelo menos o segundo grau. Na verdade, verifiquei posteriormente que vrios jovens operrios da empresa no tinham nem o primeiro grau completo. O importante, contudo, que a presso sobre a mo-de-obra feita no sentido do aumento da escolaridade. A tentativa de continuar estudando significa no s a vontade de ter um emprego melhor, mas principalmente, manter o que tem. Assim, entre os jovens metalrgicos de Osasco, 26,0% esto estudando, enquanto 74,0% deixaram de faz-lo. Entre estes, muitos revelam a preocupao pela falta de "mais estudo", caso venham a ficar desempregados.Por outro lado, 50,0% dos jovens que deixaram de estudar tm o segundo grau completo e incompleto, enquanto 26,4% tm o primeiro grau incompleto e 19,4% j o completaram. Apenas 4,2% tem o superior incompleto ou completo. Entre o que continuam estudando, 50,0% fazem o segundo grau, 12,5% o primeiro grau, 16,7% fazem cursos tcnicos e 4,2% o curso superior. Duas das empresas onde realizei a pesquisa mantem cursos supletivos ( Telecurso 2000) e a mesma porcentagem de operrios, 8,3% frequentam tanto as aulas do primeiro como do segundo grau. Comparando o nvel de escolaridade dos jovens metalrgicos entrevistados com dados referentes ao Estado de So Paulo, vemos que eles apresentam uma melhor situao. Assim, em todo o Estado, 2/3 dos trabalhadores da indstria no completaram nem o primeiro grau: 18 % dos trabalhadores no tem instruo ou tm no mximo trs anos de estudo; 50% completaram o correspondente a quatro anos de escolaridade bsica; 18% terminaram o primeiro grau (oito sries); 10% tem o segundo grau e 4% possui curso superior (Leite, E., 1995). Nas empresas de Osasco, como vimos, cerca de 2/3 dos jovens trabalhadores tem nvel de escolaridade acima do primeiro grau.O que se observa a partir de dados fornecidos pelo Ministrio da Educao, que o nvel de escolaridade dos brasileiros vem aumentando sistematicamente. No perodo de 1990 a 1996, a mdia de anos de estudo entre os homens aumentou de 5,1 para 5,6 e entre as mulheres, de 4,9 para 6,0 (Trevisan, 1998). Alm disso, na populao entre 10 e 24 anos, comparando os anos de 1986 1996, vemos que aumentou a porcentagem dos que s estudam, em todas as faixas etrias, enquanto diminuiram as taxas dos que s trabalham, igualmente em todas as faixas de idade. As mudanas mais significativas concentram-se na faixa dos 15 aos 17 anos: enquanto em 1986 25,7% s estudavam, em 1996 a taxa subiu para 39,2%; e entre os que trabalhavam caiu de 22,0% para 9,2%, respectivamente (Dieese, 199:28). compreensvel, portanto, o debate sobre educao e trabalho que movimenta os meios acadmicos, educacionais e polticos, e que tem provocado mudanas significativas tanto nos programas das escolas bsicas quanto nos cursos tcnicos. Tomarei dois textos para aprofundar a discusso sobre a exigncia de um nvel de escolaridade maior como condio para o ingresso ou permanncia no emprego. Zibas (1997), em pesquisa realizada em uma empresa com grande nmero de jovens, observou que a poltica empresarial era de incentivar a continuao dos estudos. Com isto, aproximadamente 25% dos operrios estavam matriculados no curso superior e alguns j tinham at concludo esse nvel de ensino. Um elemento motivador importante era o auxlio-educao fornecido pela empresa, que cobria 70% das despesas com educao de seus empregados. Mas, isso estava trazendo problemas, pois como no havia oportunidades de promoes para todos, a empresa estava aconselhando os que concluam o segundo grau a que no prosseguissem nos estudos, mantendo apenas o nvel tcnico. Por outro lado, ainda que os trabalhadores destacassem o grande valor da escola, seja para o ingresso como para o trabalho que realizam, afirmavam que no trabalho que aprendem efetivamente o que mais importante para a profisso e a carreira na empresa.O outro texto de Gomes (1997), que analisa os dados de trs pesquisas realizadas sobre escolaridade e emprego. Em resumo, e atendo-me apenas discusso de uma de suas hipteses, a autora afirma que a escolaridade constitui um critrio apenas secundrio para a obteno de empregos ou permanncia neles, no caso de jovens pobres. Ainda que esses jovens manifestem em suas falas, "interesse, valorizao e expectativas razoavelmente elevadas no que diz respeito escolaridade (p. 59), quando inseridos na vida escolar apresentavam um fraco desempenho e at acentuada intolerncia rotina escolar, preferindo a situao de emprego. Considero bastante discutvel a sua afirmao, concordando com Zaia Brando, de que "a escola menos importante do que imaginamos", e concluindo que "a populao pobre, mais do que qualquer outra, cedo se apercebe disso" (p.58). O que sustenta esta concluso o argumento analtico da autora que considera o abandono ou a recusa da escola pelos jovens como decorrncia de fatores ligados estrutura familiar e a uma herana cultural onde o processo de incorporao da escola e o valor atribudo escolaridade constituem experincias muito recentes.Ainda que a anlise da autora seja convincente, parece-me que preciso considerar o qu os jovens encontram na escola pblica: falta de professores (e professores que faltam s aulas); professores desestimulados, desanimados e acomodados; professores com formao precria e baixa qualificao; o preconceito, por parte da administrao escolar e dos professores, que diante de jovens pobres, com dificuldades de aprendizagem e, de fato, marcados por experincias de fracasso escolar, os qualificam geralmente como marginais "perigosos", insubordinados e deficientes mentais. Assim estigmatizados, so classificados como impossveis e casos perdidos, relegados a um destino de repetncia e, finalmente, de excluso: "j que no d para o estudo, que v trabalhar". S que, ao mesmo tempo, dito a esse mesmo jovem que para trabalhar ele precisa ficar mais tempo na escola. Considero, portanto, que o descrdito, o desencanto e a recusa da escola resultam, mais provavelmente (e tambm), desses fatores .Em um projeto de extenso e cultura que venho desenvolvendo em uma escola estadual, com supletivo de primeiro grau no perodo noturno, em um dos bairros na periferia de Osasco, tenho encontrado uma grande valorizao da escolaridade e a afirmao da importncia da escola. bem verdade que so jovens (e muitos adultos) que, na sua grande maioria, estudam e trabalham e esto tendo no supletivo uma nova oportunidade de recuperar o tempo perdido. Muitos perceberam, tardiamente, que a insatisfao e a resistncia escola, bem como a escolha que fizeram anteriormente entre escola e trabalho, ou entre escola e maternidade, sempre em detrimento dos estudos, tem pesado negativamente em sua vida profissional. Assim, para os alunos dessa escola, "no mundo em que vivemos se no tiver estudo voc no nada" (homem, 25 anos). A escola importante na medida em que permite construir um futuro melhor, com mais dignidade, com uma profisso melhor, "para que amanh possa ser um cidado que saiba sobreviver neste mundo" (homem, 18 anos). Ou ainda, " A escola para mim representa muito, pois sem ela no podemos ter um futuro adequado de um ser humano digno de respeito, onde a educao e o estudo significa bem dizer quase tudo" (mulher, 20 anos). Por isso, reivindicam aulas, mais autoridade por parte de professores e da direo para o controle da indisciplina e desencadearam um movimento exigindo que os professores dem efetivamente as quatro aulas normais, acabando assim com as dispensas aps a segunda e terceira aulas, quase que diariamente.Mas, h ainda uma outra questo, levantada por Gomes, que se refere a que tipo de formao o jovem deve ter na escola, ou melhor dizendo, que tipo de qualidades a escola deve desenvolver no aluno. A nfase posta no ensino de matemtica e de portugus, condies necessrias para poder fazer os testes nas empresas, segundo a autora. Mas h outros predicados, nem todos adquiridos, necessariamente, atravs do processo de educao formal. Em um estudo de caso realizado em uma metalrgica de porte mdio, verificou que a escolaridade no era critrio relevante para a contratao. Segundo a funcionria encarregada da seleo, as qualidades que contavam para a seleo era "ser no fumante; ter boa aparncia (ser digno, limpo, honrado); ser dinmico, flexvel, rpido; uma pessoa atirada; ter boa coordenao motora e habilidade manual; e, sem ser elimnatrio, talvez o primeiro grau" (p.60). Para o Gerente de Qualidade, os critrios seriam: "antes da escolaridade, bem antes, a boa vontade, a vontade de trabalhar naquela empresa. Gostar da empresa, gostar de trabalhar, querer trabalhar"..."Ela precisa saber fazer conta, precisa conhecer matemtica e precisa saber escrever, o resto ela vai aprender aqui dentro. Bastaria o primeiro grau" (p. 60, grifo meu).Esta frase final bastante indicativa de uma outra questo muito importante: a formao e a especializao do trabalhador parece se dar no trabalho. isto, exatamente, o que o mesmo Gerente de Qualidade nos diz: "Todos os bons que eu conheo aprenderam sozinhos" (p.60). E isso, tambm, o que os jovens metalrgicos de Osasco nos dizem: 65,0% deles afirmam que no tiveram nenhum treinamento para aprenderem o trabalho que executam. Desses, 86% aprenderam fazendo, 7,8% aprenderam em empregos anteriores, 4,7% fizeram curso tcnico e apenas 1,6% fez curso de aperfeioamento. Entre os 35,0% que afirmam terem tido treinamento, verificamos pelas suas descries que, na realidade, poucas so as empresas que fornecem algum curso inicial preparando o operrio para o trabalho. Na maioria dos casos, esses jovens foram ensinados por empregados mais experientes, e depois de um perodo de observao, com durao varivel, s vezes aps algumas horas ou dias, eram colocados na produo. Alguns consideraram como de treinamento o perodo decorrido at a aquisio de prtica para exercerem com desenvoltura e habilidade a tarefa pela qual so responsveis. evidente que no podemos ignorar que entre essas empresas existem diferenas fundamentais no que se refere ao processo produtivo, ao tipo de mquinas utilizadas, s tarefas exercidas, que demandam perodos diferentes de aprendizagem e de desenvolvimento de habilidades. At mesmo entre as sees de uma fbrica existem diferenas que tornam o processo mais ou menos difcil. Alm do que, no caso de Osasco, onde a concentrao de pequenas e mdias empresas maior, provavelmente os recursos para os cursos de treinamento so mais escassos. De fato, entre as oito empresas pesquisadas em Osasco, apenas nas trs maiores verifiquei a existncia de investimentos na formao da mo-de-obra, seja atravs de cursos supletivos (Telecurso 2000), seja atravs de cursos de treinamento tcnico. Na realidade, duas dessas empresas so multinacionais adaptando modelos das matrizes e a outra uma autopeas, fornecedora de grandes empresas que impem especificaes de qualidade. Nos trs casos, a realizao de cursos de treinamento ou de requalificao profissional decorre da introduo de novas tecnologias fsicas ou organizacionais.Os dados de pesquisas realizadas pelo Senai-SP, no primeiro semestre de 1990, em 632 estabelecimentos industriais da Grande So Paulo e em 1992, junto a 991 indstrias de todo o Estado de So Paulo, revelam que "metade das empresas est promovendo treinamentos, geralmente de contedo terico e prtico, para a mo-de-obra operacional (ligada produo), notadamente para as categorias de trabalhadores semiqualificados e qualificados" (Leite, E., 1995:164/165). Mas, existem diferenas marcantes entre os estabelecimentos, de acordo com o tamanho. Assim, nas empresas pequenas (de 50 a 99 empregados), em 1990 apenas 13% promoviam cursos e treinamentos, enquanto em 1992 a proporo aumenta para 22%. Nas empresas de tamanho mdio (de 100 a 499 empregados), as taxas eram, em 1990, de 43% e em 1992, de 53%. Nas grandes empresas (de 500 ou mais empregados), as taxas foram de 78% e 87%, respectivamente. Comprova-se, portanto, a maior disponibilidade e recursos das grandes empresas para o investimento nos programas de treinamento e/ou qualificao profissional.Se por um lado, entretanto, alguns autores apontam os baixos nveis de investimento em seminrios, cursos ou programas de qualificao e treinamento por parte das empresas (especialmente quando comparados com outros pases), por outro lado, parece acentuar-se a tendncia, entre elas, de desenvolverem os seus proprios cursos de formao tcnica, voltados para as necessidades especficas de cada processo produtivo (Leite, M., 1995; 1996). Mas como destaca Mrcia Leite (1995), nem sempre a qualificao o objetivo principal dos investimentos feitos, com as empresas preferindo concentrar esforos nos programas comportamentais ou motivacionais: "o contedo de tais programas costuma centrar-se em questes relacionadas ao tipo de atitude que a empresa espera de seus trabalhadores no cotidiano da produo e no em noes tcnicas, operacionais ou mesmo relacionadas formao bsica" (p.349).Os jovens trabalhadores de Osasco, quando interrogados se a empresa oferecia algum programa de requalificao profissional, que lhes permitisse adaptarem-se s mudanas introduzidas no trabalho, 40,2% afirmaram que sim, 46,4%, que no ofereciam e 12,4% que no sabiam. Entre os primeiros, entretanto, apesar da resposta afirmativa, muitos no tinham ainda passado por nenhum curso ou nem conheciam algum que o tivesse: "nos seis ltimos anos no aconteceu isso. Neste ltimo ano eles esto implantando alguns cursos. No sei se isso vai requalificar, no vi isso na prtica. Ainda conversa". Outros, destacam que "o gerente manda umas folhas para a gente ler" mas que curso mesmo ainda no fizeram. De qualquer forma, os cursos parecem no atingir todos os funcionrios: "oferece cursos para aumentar a qualidade do produto mas h uma certa escolha, s participam encarregados, inspetor de qualidade, mas peo no". Na maioria dos casos, os cursos oferecidos referem-se a programas de qualidade, controle de rastreabilidade, CEP, ou de desenho, mecnica, matemtica bsica e controle de medidas. Apenas um deles consegue expressar, com clareza, os objetivos desses programas de requalificao: "ainda no fiz, mas vou comear a fazer treinamento de computador porque a empresa est mudando o sistema de operao. Mesmo no piso da produo est tendo treinamento de funcionrios para ter mais qualificao e mais competio da empresa no mercado" No geral, contudo, referem-se mais realizao de palestras, onde a tnica o discurso da qualidade e da participao de todos no trabalho, em atendimento s novas estratgias estabelecidas para a obteno do certificado da ISO 9000.Podemos concluir, depois dessas informaes sobre o trabalho dos jovens metalrgicos de Osasco, que as empresas no exigem muita qualificao deles aos contrat-los, preferindo realizar um treinamento on-the-job, mas com muito pouco investimento na qualificao de seus profissionais. Como nos informa um dos diretores do sindicato: "Boa parte das pessoas da direo do sindicato passaram por cursos do Senai, tiveram uma formao profissional bsica. Hoje as pessoas no tm"..."Em Osasco ns tinhamos vrios cursos no Senai, mas hoje em Osasco, o Senai est se transformando em um centro tecnolgico. Acabou. A aprendizagem industrial estava s moscas, as empresas no estavam mandando os alunos para a escola. Muitos cursos foram desativados simplesmente porque no havia procura"..."a escola est l, a escola est a servio da indstria, est paga pela indstria e a indstria no manda pessoas para l".Procurando esclarecer essa aparente contradio entre a introduo de inovaes tcnicas e organizacionais e a contratao de funcionrios pouco qualificados, retomo observaes feitas em outro trabalho (Martins, 1997), a respeito do que Gorz chama de processo de banalizao das competncias. Gorz (1995), discutindo a polivalncia do operrio nas indstrias de processo contnuo, aponta que, na medida em que as operaes possuem qualificaes comuns, haveria uma mobilidade potencial desses trabalhadores, que podem circular de uma empresa a outra sem problemas. Mesmo reconhecendo que alm de uma formao comum, esse operrio deve ter uma formao especfica de acordo com a indstria, esta, entretanto, no exige muito tempo de treinamento. Esse operrio tem, ento, uma "autonomia existencial" maior, no sendo um prisioneiro de "sua" empresa. Mas, em contrapartida, esta tambm pode substitu-lo muito mais facilmente. isso que torna banalizado o saber profissional. Com esse termo Gorz no quer dizer que o trabalho seja desqualificado ou montono, mas sim que h uma acessibilidade muito grande da qualificao, ou seja, hoje as pessoas podem muito facilmente ter acesso a certas habilidades ou competncias. o referido processo de banalizao das competncias que torna o saber ou as capacidades profissionais fcil e rapidamente substituveis. Provavelmente, a presena de jovens nas empresas, portadores de nvel maior de escolaridade, mais "educados", ainda que menos qualificados, prende-se a essa banalizao das competncias apontada por Gorz.Mas, os jovens da categoria metalrgica mantm, ainda, expectativas com relao qualificao profissional. Assim, considerando o tipo de atividade que o sindicato deveria promover para os jovens, a grande maioria concentra o seu interesse em convnios com escolas tcnicas (30,9%), em cursos de requalificao profissional (25,8%) e convnios com escolas de primeiro e segundo graus (19,7%), colocando em segundo plano as atividades culturais e de lazer.Concluindo essa discusso, introduzo os dados de pesquisa realizada por Renner(1997), a partir da Relao Anual das Informaes Sociais - RAIS, do Ministrio do Trabalho, no perodo de 1986 a 1994 e com resultados preliminares da RAIS 95, analisando as transformaes ocorridas no emprego tcnico. As ocupaes tcnicas selecionadas para o estudo so aquelas que formam o grupo base -030 a 039 do Cdigo Brasileiro de Ocupaes (CBO), que inclue, entre outras, mecnica, eletricidade, eletrnica e telecomunicaes, qumica, txteis, metalurgia, etc. O principal objetivo do estudo esclarecer a reiterada afirmao de que a introduo progressiva de equipamentos tecnologicamente mais avanados e as mudanas na organizao e gesto do trabalho exigiria uma maior qualificao da mo-de-obra, bem como melhores nveis de ensino.A pesquisadora verificou que no perodo de 1986 a 1989 houve um aumento regular no emprego tcnico, que acumulou 18% de crescimento. Entretanto, a partir de 1990, registrou-se um declnio, ano a ano, sistematicamente, do emprego tcnico. Em 1995, o total de emprego tcnico reduzira-se 27%, em todos os setores, comparando com 1989. O declnio das ocupaes tcnicas, contudo, foi maior no setor industrial: no perodo de 1989 a 1995 a contrao foi de -35%. Por outro lado, observa-se que houve elevao no nvel de instruo das ocupaes tcnicas, crescendo a proporo de tcnicos com curso completo de segundo e terceiro graus. No caso especfico da indstria, vemos que a partir de 1990, cresce o peso do grupo de tcnicos com segundo grau completo (passando de 31% para 38%) ou superior completo e incompleto (de 22% para 25%). E, particularmente o que nos interessa mais de perto, constata-se, nos dados, que a partir de 1990 h um decrscimo dos tcnicos mais jovens e aumento de tcnicos com mais idade. O grupo de tcnicos na faixa etria de 15 a 29 anos de idade decresceu de 44% para 34%, entre 1989 e 1995. Nessa mesma faixa etria, tambm, onde os tcnicos mais jovens, com nvel de escolaridade mais baixa (at o segundo grau incompleto), tem maior probabilidade de perda de emprego. Na verdade, o subgrupo de 15 a 24 anos que est mais exposto ao risco de dispensa e, mesmo os jovens com segundo grau completo ou mais, entre 1989 e 1994, tiveram o seu peso reduzido em 25%. Quando se analisa o emprego tcnico segundo o tempo de servio vemos que a reduo maior entre os tcnicos com menos tempo de servio.Em resumo, portanto, vemos que a reduo do emprego tcnico tem atingido os trabalhadores mais jovens, com menor nvel de escolaridade e com menor tempo de servio. O que confirma, sem dvida, o difcil quadro enfrentado pelos jovens no mercado de trabalho.A relao dos jovens com o sindicatoTem sido bastante difundida, seja nas anlises sociolgicas a respeito da juventude, seja atravs dos meios de comunicao de massa, uma imagem do jovem marcada pela negatividade, ressaltando o individualismo, a passividade, a falta de companheirismo e o afastamento das questes que afetam o conjunto dos trabalhadores. A nfase tem sido posta no carter instrumental da relao desenvolvida com o trabalho, explicada como decorrncia da mudana nos valores e nos modos de regulao social que afetam a maneira pela qual o jovem socializado e preparado para entrar no mundo do trabalho. As exigncias de autonomia individual, o individualismo exacerbado e a valorizao dos modos privados de consumo, constituiriam elementos sociais bsicos que orientam os jovens na elaborao das representaes do emprego e do trabalho (Martins, 1997:104).Chiesi e Martinelli, na pesquisa realizada com jovens italianos, apontam que apenas 8,2% dos jovens empregados sob regime contratual tinham participado, nos ltimos doze meses, em atividades sindicais. E, em uma lista de quinze organizaes, grupos ou associaes e iniciativas coletivas, os jovens colocaram o sindicato em ltimo lugar. De fato, os mesmos autores fornecem dados referentes sindicalizao de jovens europeus que comprovam a baixa adeso dos jovens s entidades sindicais: na Itlia, apenas 2,1% dos jovens so sindicalizados, na Espanha, 1,8%, na Frana, 2,2% e 10% na Alemanha e na Inglaterra. Mas esse um fenmeno que atinge a todos os trabalhadores, em geral, e no somente os jovens. A crise de representatividade dos sindicatos europeus, iniciada em meados da dcada de 70, tem sido explicada pela "formao de um novo cenrio que envolve componentes de natureza econmica, tcnica, poltica, ideolgica e cultural, ou seja, a constituio de novos modelos de organizao social, de produo, de interveno poltica e de valores" (Rodrigues, 1997:5/6). A queda nas taxas de sindicalizao no chega, entretanto, aos nveis apresentados nos casos acima referidos, o que nos permite afirmar que os jovens apresentam o ponto mais crtico dessa crise. Vrias explicaes tem sido formuladas para dar conta desse afastamento do jovem com relao ao sindicato. Chiesi e Martinelli argumentam que o sindicato sempre teve, como sua preocupao central, o emprego nas grandes empresas, onde a presena do jovem marginal. Para os sindicatos, o crescimento do nmero de pequenas empresas e do setor tercirio, que tm empregado os jovens, so vistos "como uma vitria das tendncias desreguladoras e neo-conservadoras do capital" (p.125). Alm do mais, a representao sindical de base sempre foi feita por trabalhadores mais velhos, no admitindo a participao do jovem. Bajoit e Franssen, explicam o desinteresse e o afastamento dos jovens belgas das atividades sindicais por as considerarem como "pouco legtimas e inoperantes" para resolver as situaes particulares dos jovens. A procura do sindicato tem sempre um carter instrumentalizado, pois os jovens, tambm para esses autores, recusam uma souo coletiva, tais como reivindicao ou negociao. Preferem o protesto individual, que se manifesta pela desimplicao de si no trabalho ou pelo pedido de demisso.Os diretores sindicais metalrgicos de Osasco apresentam, tambm, a sua interpretao para a recusa do sindicato:"O nosso discurso era para o militante formado, era para o militante da organizao das nossas greves, o militante que a gente quer que ele saiba a histria do sindicalismo, as tradies do sindicalismo. A realidade no essa, uma coisa que ns dirigentes queremos e esse querer isso, atingir essas pessoas para a atuao, tem um abismo pela frente. Ento hoje, boa parte dos programas do sindicato so voltados para o jovem trabalhador"..."Porque o sindicato tem que representar toda a categoria e no uma parte dela e se a gente no muda, o sindicato simplesmente deixa de ter essa faixa de participantes, de exercer de fato a militncia e as atividades sindicais"..."o sindicato de hoje precisa desse trabalhador. O sindicato do futuro vai depender dele" (40 anos, h vinte anos como dirigente sindical).No tenho elementos para avaliar se essa nova poltica sindical dirigida aos jovens tem alcanado resultados, mas as taxas de sindicalizao dos jovens entrevistados so, sem dvida alguma, surpreendentes, especialmente quando comparadas com as europias. Quando consultados, 48,4% deles afirmaram ser sindicalizados, enquanto 51,6% que no eram. Mas, filiao sindical no significa envolvimento com as atividades sindicais e, nesse caso, apenas 19,4% dos sindicalizados disseram frequentar ou participar do sindicato, enquanto a grande maioria, 80,6%, mantinha-se distante. Poder-se-ia argumentar que se trata de uma recusa, por parte dos jovens, de ligao com qualquer grupo formal e, mais uma vez, destacar o individualismo que os impede de construir qualquer identidade com o conjunto dos trabalhadores, nem mesmo nos momentos de lazer. H estudos, entretanto, que mostram a importncia dos grupos juvens (gangs, tribos) na sociabilidade e na construo de uma identidade dos jovens ( Abramo, 1994). O depoimento de um outro diretor do sindicato de Osasco aponta, exatamente o sentido dessa sociabilidade juvenil, a busca de referncias e de um cotidiano marcado pelo lazer:"Eu acho que o que mais atrai o jovem no sindicato no nem sempre a luta. Eu, particularmente, quando vim para o sindicato, eu no vim, nem tanto atraido pela luta, eu vim mais porque o sindicato fazia seminrios, l em Caraguatatuba, na colnia de frias e levava a gente para a praia e acabava criando mais amizades. Foi mais nesse esprito que eu fui incorporando esse gosto, pegando gosto pelo sindicato, pela luta em si. Mas eu, particularmente, vim para o sindicato com outra viso, vim para o sindicato para ir l na praia, para conhecer novas pessoas, ter uma amizade maior e a gente acabou se envolvendo e pegando gosto pela coisa. O que mais atrai o jovem no sindicato o torneio de futebol de salo que a gente faz, de futebol soaite, um seminrio quando a gente fala que vai levar ele para a praia, ele vai ter o tempo dele para ir para a praia, vai ter o tempo dele para bagunar a noite no barzinho, mas tem o tempo dele em que senta l tambm e presta ateno e participa do conhecimento da luta dos trabalhadores, quando a gente tem que elaborar uma pauta de campanha salarial e com essas pessoas que a gente discute. Que acabam indo mais interessadas por outras coisas, mas ao mesmo tempo acabam participando e pegando gosto pela coisa. um negcio bastante interessante" (diretor sindical h oito anos, 30 anos).Porm, nem isso parece interessar aos jovens metalrgicos de Osasco, pois 85,2% deles no participam ou tm ligaes com qualquer grupo de jovens. Os restantes participam, em sua grande maioria (60,0), de grupos ou organizaes de Igrejas catlica e evanglicas, ou de clubes esportivos (24,0%). Na explicao desse comportamento fico com o depoimento de uma jovem de 21 anos que, em suas horas de folga, prefere dormir, pois "fica cansada de tanto trabalhar".Existe, ainda. um outro dado contraditrio a respeito da relao desses jovens de Osasco com o sindicato. Quando lhes pedi uma opinio sobre a atuao do sindicato, 56,5% deles, inclusive os no sindicalizados, afirmaram acreditar que a entidade tem uma atuao combativa na defesa dos interesses dos trabalhadores. Apenas 16,5% no compartilhavam essa opinio, 14,1% consideravam que a atuao era "mais ou menos" e 12,9% no sabiam informar. Mas, se os sindicatos ainda no conseguem lidar adequadamente com os jovens de sua categoria, desenvolvendo atividades mais atrativas, preciso considerar, tambm, as estratgias das empresas para controlarem ou minimizarem a atuao das entidades sindicais. Vrios autores tm apontado que a crise do sistema fordista-taylorista e a adoo do modelo japons por parte de muitas de nossas empresas (apesar de todas as dificuldades assinaladas), vm colocando vrios entraves atuao dos sindicatos. De um lado, s muito recentemente as entidades brasileiras tm atenuado a sua forte rejeio reestruturao produtiva, preferindo ampliar o espao de negociao. Por outro lado, as empresas vm implementando uma srie de medidas que interferem diretamente nas relaes de trabalho, abrindo mais espao para polticas de "humanizao" e de participao dos trabalhadores. Concretamente, essas iniciativas abalam a imagem do sindicato, pois definem a no necessidade da presena de seus representantes no interior da fbrica e, no limite, podem significar a sua completa excluso (Humphrey, 1995).Alm do mais, o aumento dos ndices de desemprego e a percepo bastante clara dos trabalhadores a respeito das incertezas do mercado de trabalho, decorrentes desse processo de reestruturao produtiva, marcam todas as suas expectativas com relao ao sindicato. Diante da pergunta sobre quais seriam, na opinio deles, as tarefas mais importantes do sindicato , os jovens metalrgicos de Osasco colocam a luta contra o desemprego na frente de todas as outras, com um total de 63,6% das indicaes. Logo em seguida, tambm expressando a mesma preocupao com o emprego, 41,8% das escolhas apontam que o sindicato deve lutar para que a empresa no se feche. Na preferncia dos entrevistados aparecem, logo aps, as tarefas que dizem respeito representao dos interesses econmicos nas relaes com com govrno e empresas (31,4%) e a luta por melhores condies de trabalho (25,2%). Aparece, ainda, indicando igualmente a viso instrumental que esses jovens tm do sindicato, a preocupao com a prestao de servios de advogados, mdicos, dentistas, etc, com 12,7% das opes. As alternativas mais ideolgicas, tanto na sua verso mais geral de conscientizao e organizao dos trabalhadores, como na mais radical de oposio ao regime capitalista, alcanaram 12,6% e 5,3%, respectivamente.Espero ter apontado neste trabalho algumas das questes mais significativas que atingem os jovens trabalhadores hoje. Como disse anteriormente, apresento ainda dados provisrios da pesquisa que venho realizando, mas posso considerar que eles j revelam uma realidade bastante desconhecida nos estudos referentes ao trabalhador brasileiro. So praticamente inexistentes os estudos sobre o jovem trabalhador, especialmente na faixa etria que escolhi. E o que tenho observado contribui, sem dvida, para romper com a tendncia homogeneizadora que predomina nas anlises existentes.BIBLIOGRAFIAABRAMO, Helena W., 1994. Cenas juvens-punks e darks no espetculo urbano. So Paulo: Scritta/Anpocs.BAJOIT, Guy e FRANSSEN, Abraham, 1997 O trabalho, busca de sentido. Revista Brasileira de Educao. So Paulo:Anped, maio/jun/jul/ago, n 5; set/out/nov/dez, n 6; 76-95.BRESCIANI, Lus Paulo, 1994. Da resistncia contratao: tecnologia, trabalho e ao sindical no Brasil. Brasilia:Sesi-DN.CHIESI, Antonio e MARTINELLI, Alberto, 1997. O trabalho como escolha e oportunidade. Revista Brasileira de Educao. So Paulo:Anped, mai/jun/jul/ago, n 5; set/out/nov/dez, n 6.DIEESE, 1997.A situao do jovem no mercado de trabalho brasileiro. Boletim do Dieese. So Paulo, 16:194; 27-32.DIEESE, 1997. A categoria em nmeros. 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A base territorial do sindicato abrange doze municpios: Itapevi, Cotia, Barueri, Jandira, Vargem Grande Paulista, Itapecerica da Serra, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaba, Embu, Taboo da Serra, Carapicuba e Osasco. A entidade representa cerca de 30.000 trabalhadores, sendo 18.000 sindicalizados. Existem cerca de aproximadamente setecentas empresas na base, sendo que a maior parte da categoria est concentrada nas pequenas e mdias empresas (entre 100 e 400 trabalhadores). As empresas pertencem principalmente aos subsetores de mquinas e equipamentos, eletroeletrnicos e autopeas (DIEESE, 1998). A pesquisa consiste na aplicao de questionrios com sessenta e sete questes, abertas e fechadas, em quarenta e oito empresas da regio abrangida pelo Sindicato dos Metalrgicos. A anlise ter como referncia noventa e sete entrevistas, realizadas em oito indstrias metalrgicas e eletroeletrnicas, localizadas no municpio de Osasco. No cabe, aqui, uma discusso mais detalhada a respeito, mas remeto ao trabalho de Maria Helena S. Patto sobre o fracasso escolar no qual, de forma contundente e competente revela, especialmente na segunda parte, a realidade cruel e violenta do cotidiano da escola. Confirmando a baixa participao dos jovens nas comisses ou organizaes dentro das empresas, temos os dados sobre as comisses de discusso da participao nos lucros e resultados em Osasco. Enquanto 2,0% tinham de 16 a 19 anos, 25.0% de 20 a 29 anos e 73% tinham acima de trinta anos (Dieese,1998c). importante destacar que o sindicato possui, em um dos bairros mais centrais de Osasco, um bem equipado clube esportivo que atrai, nos finais de semana e mesmo aps os horrios de trabalho, uma grande proporo de scios. Segui, nesta questo, a sugesto de Tezanos (1987), com algumas modificaes Lembro, ainda, que as porcentagens referem-se soma das indicaes das tarefas que os entrevistados consideravam mais importante em primeiro e em segundo lugar 251