Estudos Sociedade e Agricultura
Cláudia Espindola
Unidade de assentamento
Estudos Sociedade e Agricultura, 18, abril, 2002: 198-199.
Cláudia Espindola é mestranda do CPDA/ UFRRJ.
A foto apresenta uma unidade de assentamento no Estado do Rio de Janeiro. A pequena via de acesso leva ao aglomerado de casas. No reduzido lote habitam três famílias, apenas uma delas detém a posse do terreno. Os dois relógios de luz, em vez de três, fazem supor que uma das residências utiliza energia elétrica emprestada de outra, prática comum na comunidade.
Vários núcleos familiares em um mesmo lote é típico no assentamento. Filhos, tornam-se adultos e constituem suas próprias famílias, constroem suas casas e permanecem nas terras. Outros parentes em dificuldades, sobretudo nordestinos, vêm juntar-se em busca de melhores meios de vida.
Foto
Assentamento Rural Cachoeira Grande, município de Magé (RJ), 2001. Foto: Cláudia Espindola
O assentamento foi regularizado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro em 1985 e reúne uma centena e meia de famílias. Os lotes variam na metragem entre 0,5 e 5ha, porque, quando da legalização das terras, respeitou-se a divisão informal pré-existente. Apesar da metragem superior, algumas propriedades têm terreno pedregoso e difícil para o trabalho agrícola.
Como registro, a fotografia é uma interrupção no tempo em determinado lugar do espaço. Mas para além da data em que a foto foi realizada, a imagem contém outros registros temporais. A fotografia foi tomada em 2001, enquanto o modelo do automóvel estacionado na sombra da arvore é da década de 1980. Carros e motocicletas são bens de consumo muito valorizados na região. No município, a rede de transportes é precária e as distancias percorridas, longas.
As casas de alvenaria, a maioria em processo de construção, são uma constante na paisagem local. Elas indicam, além da taxa elevada de crescimento da população, a utilização de mão-de-obra própria da comunidade. Freqüentemente os assentados realizam mutirão para as fases mais pesadas da construção. Assim, pelo caráter de improviso, as habitações mais acabadas têm em geral defeitos bem visíveis. Muitas vezes, as casas permanecem com o tijolo exposto em definitivo, indicio da pobreza generalizada na região, ou, quem sabe, uma escolha estética em alguns casos.
As crianças brincam no quintal como que marcando no instantâneo a numerosa população jovem local, uma vez que mais de 40% dos assentados têm menos de dezoito anos. Apesar do elevado numero de crianças e jovens, há apenas uma escola na localidade, diurna, que oferece somente até a quarta série do ensino fundamental.
Os dois postes lado a lado mostram sinais do tempo. O mais antigo ainda cumpre função no abastecimento de energia de parte da população. A unidade focada aqui já é abastecida pelo sistema mais recente, conquistado após anos de reivindicações dos moradores junto ao poder publico.
Ao fundo, vê-se a cadeia de morros da Serra dos Órgãos guardando vestígios da primeira estrada de ferro do Brasil, inaugurada em 1854.